sábado, 5 de novembro de 2011

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente, e a pele translúcida há muito se manchou. Há rugas onde havia sedas, sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins. Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia. O que te posso dar é mais que tudo o que perdi... dou-te os meus ganhos, a maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria, busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada. Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora, esses dourados anos me ensinaram a amar melhor, com mais paciência e não menos ardor, a entender-te se precisas, a aguardar-te quando vais, a dar-te regaço de amante e colo de amiga, e sobretudo força - que vem do aprendizado. Isso posso te dar...um mar antigo e confiável, cujas marés mesmo se fogem retornam, cujas correntes ocultas não levam destroços, mas o sonho interminável das sereias.

Lya Luft

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